Estilo arquitetônico presente ao longo das décadas

O ano de 1890 é considerado o início das primeiras edificações nos bairros da Barra Funda, Bom Retiro, Canindé, Carandiru e Pari. Ano em que Antonio Prado encomendou de Luigi Pucci (capomastro italiano notável pelas suas realizações e responsável pela execução do projeto do Museu do Ipiranga) o plano geral de edificações e construção do palacete da famosa Chácara do Carvalho, cuja sede, durante anos, foi o ponto preferido da “fina flor” da intelectualidade paulistana. A importância desse fato é que a construção da chácara induziu ao rápido desenvolvimento dos bairros da Barra Funda e Campos Elísios, originando o loteamento da área.

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Fonte: Autores, 2015. Fachada de uma casa preservada na rua Barra Funda

Apesar de a Barra Funda de Cima já ter consolidado a sua formação em termo de ocupação entre os anos de 1910 e 1915 a cidade de São Paulo recebeu um grande afluxo de população, sem que houvesse uma correspondente oferta de imóveis para atender às novas necessidades. A escassez de casas de aluguel tornara-se aguda, multiplicando-se as queixas contra o prefeito Antônio Prado, que estava mais preocupado com a remodelação da cidade- exigia demolições indiscriminadas, obrigando a população a procurar novas casas de aluguel elevado- do que com problemas da habitação, como a proliferação de cortiços explorados por locadores e sublocadores italianos.

Outra característica comum nos bairros populares da época – e presente na Barra Funda- são as vilas operárias (ou casas de vivenda), construídas nas imediações das fábricas. Eram alugadas para operários, configurando um novo tipo de investimento que associava a montagem de uma indústria ao desenvolvimento imobiliário da região em que se inseria.

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Fonte: Autores, 2015. Fachada de casas do século passado

A elite do bairro residia nas vizinhanças de Campos Elísios e Santa Cecília, pontos que ainda hoje guardam resquícios de uma ou outra residência maior e mais pretensiosa. Maior área, porém, não escapava à regra dos bairros operários da época: habitações de aspecto moderno, térreas, geminadas, com pequena frente, geralmente possuindo porões dando diretamente para a rua e obedecendo a um estilo mais padronizado. Contudo, em 1930 tornou-se mais rápida o adensamento da várzea e a modificação da Barra Funda de Cima; com início da instalação do comércio deu-se o abrandamento do contraste entre os Campos Elísios –bairro de elite- e a Barra Funda –bairro operário popular-, ocasionando a decadência do primeiro e a caracterização do segundo mais como local de classe média baixa. No limite dos dois bairros começaram a aparecer os cortiços, ocupando os casarões.

A década de 1940 marcou a cidade de São Paulo, urbanisticamente, em virtude dos grandes projetos viários das avenidas e por uma densa verticalização (prédios mais altos e com apartamentos menores). Entretanto, a Barra Funda parece não ter sido efetivamente afetada, exceto quando da construção da Via Elevada Presidente Artur da Costa e Silva- o “Minhocão”- entre os anos de 1969 e 1971, que até hoje é apontado como agravante no processo de estagnação e deterioração do bairro.

A verticalização começava lentamente a fazer parte da realidade desse bairro com poucos edifícios de apartamentos. Seu perfil horizontal ainda é um contraste na paisagem de uma região na cidade cercada pelos espigões dos bairros vizinhos. Os poucos prédios existentes formam um a paisagem estranha dentro de um ambiente constituído principalmente por um comércio variado, porém pouco expressivo, e residências antigas e simples, com detalhes arquitetônicos entalhados no início do século XX. Os casarões antigos foram transformados em cortiços e vilas. As primeiras indústrias da cidade foram substituídas pelas oficinas e por pequenas médias fábricas. Apesar do início do funcionamento da linha leste-oeste do metrô, em 1988, da construção do terminal intermodal da Barra Funda –o maior da cidade- da Rodoviária Oeste, e da inauguração do Memorial da América Latina (projeto do Oscar Niemeyer), os resultados dessas melhorias ainda não são evidentes, inobstante de já se terem passado mais de dez anos, alterando muito pouco o perfil do bairro, aparentemente parado no tempo

Localizada a cerca de três quilômetros da Praça da Sé, o bairro chegou ao final do século XX como espaço ainda bastante ocupado por antigas construções, onde existem poucos terrenos vazios, o que pode instigar a idéia de demolição para dar espaço a novas edificações.

Atualmente, a qualidade as edificações existentes, com seu padrão e estado geral de conservação não é convidativa à instalação de negócios mais sofisticados. Mas o que chama a atenção neste lugar divido pela linha do trem são as contradições: casas de estilo interiorano com famílias que ainda põem cadeiras nas calçadas para colocar as novidades em dia, misturadas a pontos de prostituição próximos aos shoppings centers,parques e construções arquitetônicas arrojadas, como o Memorial da América Latina.

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Fonte: Autores, 2015. Verticalização do bairro ao fundo e, na frente, antigo prédio histórico.

 

Fonte: BRUNELLI, Aidelli S. Urbani; et al. Revista Barra Funda. São Paulo: DPH, 2006. Série História dos Bairros, Vol. 29

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